sábado, 12 de abril de 2014

Fotografias - Parte 1

Finalmente fiz a matéria de Fotografia digital na universidade. Gosto muito de fotografar e hoje compreendo que o ato não trata-se apenas do movimento físico de apertar um botão, mas também de ter a sensibilidade de fazer escolhas, principalmente a do ponto de vista. Sendo assim, esse post trata apenas da exposição das minhas fotografias. Espero fazer mais e quem sabe comprar um Canon legal, por isso parte 1 no título, para que acima de tudo eu tenha a convicção de que preciso expor meu olhar constantemente.

PS - As fotos foram feitas durante a preparação do Sarau debaixo, evento que acontece toda terceira terça do mês em baixo do viaduto do DIA na capital sergipana, Aracaju.








quinta-feira, 3 de abril de 2014

As novas relações econômicas e sociais entre consumidores e produtores no mercado artístico

Artigo apresentado em 2014 para a matéria "Tecnologia e linguagem dos meios de comunicação" do curso de Audiovisual da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Raul Marx Rabelo Araujo
Estudante de Comunicação social da UFS

Resumo

O mercado fonográfico encontra-se em uma grande enrascada. Com a acensão da internet e o seu modelo de compartilhamento incessante, os grandes selos e gravadoras viram as suas economias em crise. De um modo geral, o surgimento dos torrents e sites de hospedagem aumentaram a circulação de conteúdo artístico, mas em compensação freou violentamente a economia fonográfica. Por outro lado, o cinema, com forte poder de reinventar-se, devido ao seu modelo de consumo, não enfrentou tantos problemas. Entretanto, com o crescente aumento dos mais diversos tipos de tela, essa situação começa a incomodar.

O Presente artigo tenta relacionar os debates apresentados na obra “A Tela global” de Gilles Lipovetsky com a postura inovadora de Amanda Palmer dentro do mercado fonográfico. Apesar de os dois assuntos tratarem de nichos diferentes, cinema e música, pretendemos problematizar a relação entre consumidor e produtor de arte à partir das inovações tecnológicas, não só pelas vias econômicas, mas também pelas relações sociais.

Introdução – Um novo modelo de consumo

A tecnologia dos anos 1980 cola-se à pele, responde ao toque: o computador pessoal, o walkman, o telefone portátil, as lentes de contato. Alguns temas centrais emergem repetidamente no ciberpunk. O tema ainda mais poderoso da invasão da mente: interfaces cérebro-computador, inteligência artificial, neuroquímica – técnicas que radicalmente redefinem a natureza da humanidade, a natureza do eu... (SANTAELLA, 2007, p. 128, apud DYENS, 2001, p. 73)


A citação acima refere-se aos anos 80, mas ela cabe perfeitamente ao que viria acontecer nos anos posteriores. Vivemos o pós-humanismo, ou seja, vivemos cada dia mais numa difusão entre homem e máquina. Mas diferente das previsões oitentistas em filmes como Blade Runner, a tecnologia não está desmembrada do ser humano. Não existem ao nosso redor robôs andantes e falantes que nos servem, na verdade, a nossa relação parece ser mais carnal, conectada. A tecnologia hoje interfere nas relações humanas como suporte. As telas espalhadas pelo mundo com seus aplicativos e a internet oferecem um modelo de troca de informações e comunicação bem mais simplificados.

Nossas relações sociais, profissionais e financeiras quase nos obriga a entrar nessa lógica de intermediação tecnológica. Essa interferência, se bem utilizada, facilita a vida do ser humano, além de lhe trazer mais conhecimento e entretenimento. Nesse espaço novas alternativas de consumo audiovisual se ampliaram, vemos TV e ouvimos rádio de maneira diferente, nos comunicamos com mais facilidade em meio as redes sociais e até coisas banais, como chamar um táxi e identificar uma música legal se tornaram simplificadas. Todo esse movimento pode ser caracterizado como cibercultura. Entende-se esse termo como “a relações entre as tecnologias informacionais de comunicação e informação e a cultura, emergentes a partir da convergência informática/telecomunicações na década de 1970” (Lemos, 2002).

Ainda segundo André Lemos, a cibercultura tem como principal orientador a “re-mixagem”, que seria mais ou menos o costume de reaproveitamento e edição de conteúdo e informações dentro das tecnologias digitais. Esse principio tem como características básicas: “a liberação do pólo da emissão, o princípio de conexão em rede e a reconfiguração de formatos midiáticos e práticas sociais”, ou seja, o antigo consumidor torna-se também produtor, cria e adapta o que já existe; se expandem as conexões entre os usuários com acensão dos dispositivos móveis e a expansão do acesso a internet e, por último, a restruturação da industria que destrói o monopólio burgues.

A cibercultura reconfigurou não só a industria cultural, como também revolucionou as relações pessoais e a experiencia humana. Alterou as formas de produção e circulação material, de conteúdo e de serviços, assim também como modificou a troca de informações e a comunicação. Dentre dessa revolução, as mídias hegemônicas e a industria cultural, viram o seu monopólio ruir. As novas mídias apresentam um formato igualitário e democrático e fazem com que a industria acabe ganhando novas molduras. Dentro desse novo momento surgem novos conflitos, não só para a industria como também para artistas e produtores.

As soluções de Amanda Palmer


Amanda Palmer não foi a criadora de um sistema que se adaptou as novas tecnologias. As plataformas que ela usou para arrecadar dinheiro dos fãs para uma produção independente, já existiam. Na verdade, a cantora é um exemplo de uma restruturação da industria da arte a partir do próprio artista. Nesse novo modelo as grandes industrias perdem o controle para os produtores, o que resulta uma maior liberdade para o mesmo.

No caso de Amanda Palmer, cantora da banda The Dresden Dolls, a plataforma usada por ela foi um site de crowdfunding, financiamento coletivo. Esses espaços funcionam de forma inversa ao modelo consolidado anteriormente. Os consumidores, fãs e amigos, pagam antecipadamente pelo produto a quantia que achar necessária, para só depois, afinal a realização ainda vai acontecer, receber o produto. Na arrecadação que Palmer fez junto aos fãs, sua pretensão era de 100 mil, mas acabou conseguindo mais de US$ 1 milhão, ou seja, transformou-se em um ícone desse modelo de negócio.

Para a cantora esse novo modelo de gestão de negócio é libertário: “Eu quero fazer música e quero ter o controle. Geralmente, perde-se o controle quando se assina com grandes gravadoras, e acaba não valendo a pena, mesmo que a grana seja maior. Eu tenho uma boa ideia de quem são os meus fãs, o tipo de música que eu quero fazer, como eu quero que o conjunto fique” (PALMER, 2013).

Uma revolução na industria da arte

O 'verdadeiro' cinema não se acha atrás de nós: ele não cessa de se reinventar. Mesmo confrontando a novos desafios de produção, de difusão e de consumo, o cinema continua sendo uma arte de um poderoso dinamismo, cuja criatividade não está de modo algum em declínio. O tudo-tela não é o túmulo do cinema: mais do que nunca este demonstra inventividade, diversidade, vitalidade (LIPOVETSKY; SERROY, 2009, p 14).


Assim como a industria fonográfica, o cinema também enfrenta um dilema. Com a expansão das telas, principal suporte para as tecnologias atuais, o audiovisual estará em todos os lugares, mas em descompensação pode por em risco o formato atual da industria cinematográfica. Mas, diferente da música, o cinema consegue se adaptar e resistir, entretanto os meios de transmissão de conteúdo audiovisual não param de surgir e por isso esse cenário deve se transformar.

A primeira grande concorrência tecnológica que gerou medo na industria cinematográfica foi o surgimento da televisão. Muitos acreditavam que as pessoas deixariam de assistir filmes em salas de cinema, para assistir no conforto das suas salas. Acabou que a televisão construiu uma linguagem, metodologia e sistema financeiro próprio, diferenciando da sétima arte. Hoje em dia, o próprio modelo clássico de ver TV está mais ameaçado que as exibições de filmes em salas de cinema. Houve uma reconfiguração, as salas acabaram se transportadas para dentro dos shoppings e os investimentos de filmes dedicados a várias “janelas”, ganharam um maior financiamento.

A questão agora é que o problema (ou solução) é bem mais complexo. Vivemos à época da tela global:

Tela em todo lugar e a todo momento, nas lojas e nos aeroportos, nos restaurantes e bares, no metrô, nos carros e nos aviões; tela de todas as dimensões, tela plana, tela cheia e minitela portátil; tela sobre nós, tela que carregamos conosco; tela para ver e fazer tudo. Tela de vídeo, tela em miniatura, tela gráfica, tela nômade, tela tátil, o século que começa é o da tela onipresente e multifome, planetária e multimidiática (LIPOVETSKY; SERROY, 2009, p 14).

Todas essas definições de telas aglomeram dentro delas plataformas que, a cada vez mais, fazem ligações de uma mídia com outra, num processo chamado transmídia. Tv e rádio hoje já são transmitidas online, o serviço do Netflix, por exemplo, oferece um modo revolucionário de ver televisão: o que quiser, quando quiser em qualquer lugar. A televisão perde cada vez mais audiência, mas algumas séries batem recordes de downloads, os investimentos para as produções televisivas se equilibram com os grandes filmes hollywoodianas, o que parece acontecer é que as produções seguem o mesmo caminho feito pelas mídias, tudo conectando-se.
Produções baratas lotam sessões, produções caras enchem programações de canais de assinatura, filmes estreiam direto na TV, exibições simultâneas de episódios de séries em todos os países que o canal tem retransmissoras, rádio em aparelhos televisivos, Tv em dispositivos móveis. Os limites entre TV, rádio, cinema e internet parecem cada vez mais desaparecer e é dentro dessa lógica que o capitalismo parece desestruturar-se. Mas o que é mais interessante é que o monopólio da produção cultural foi quebrado, as tentativas de resistência fora desse novo modelo social ao qual se organiza as relações sociais, frustraram.

Dentro desses dois panoramas, com o audiovisual expandindo suas plataformas de exibição e ao mesmo tempo transformando essas mesma plataformas em uma única coisa, onde o que diferencia as produções é o caráter técnico, e a música arranja novas formas de financiamento, bandas recorrem a financiamentos coletivos, disponibilizam grátis o disco na internet ao mesmo tempo que aumenta o preço e o número de shows . O que fica claro é que o mercado se reconfigurou, a crise existe para quem não se adequou as novas tecnologias.

Conclusão

Como fica claro na introdução deste artigo, a internet revolucionou as relações sociais e constantemente transforma a industria cultural. Ela tem um caráter bastante democrático e anárquico. As informações cada vez mais sai das mãos dos detentores de capital, isso é um grande avanço para humanidade. Mas o futuro apresenta grandes conflitos. Dentro do sistema em que vivemos, a arte precisa sustentar-se, os produtores precisam de dinheiro para produzir mais. Entretanto, ao mesmo tempo, esse democratização da “arte em todo lugar” não pode morrer, nem deve, pela dimensão que a internet tem.

Na verdade, as tecnologias a partir das interferências sociais, modificaram toda a estrutura de sociedade. O capitalismo, como conhecemos, até então, está morrendo. A democracia no consumo da arte vem de um viés de esquerda e ameaça o “livre mercado”, mas fomenta a liberdade individual. O grande risco, que é comum dentro desse sistema, é que ele queira apoderar-se dessas liberdades. Uma visão otimista da manutenção desse mercado é o exemplo de Amanda Palmer, mas existem ações da antiga mídia hegemônica e agora destruída tentando retornar a sua dominação. Mas o interessante é que além das alternativas criadas pela tecnologia, ela própria em seu sistema dificulta essas atitudes.