Finalmente fiz a matéria de Fotografia digital na universidade. Gosto muito de fotografar e hoje compreendo que o ato não trata-se apenas do movimento físico de apertar um botão, mas também de ter a sensibilidade de fazer escolhas, principalmente a do ponto de vista. Sendo assim, esse post trata apenas da exposição das minhas fotografias. Espero fazer mais e quem sabe comprar um Canon legal, por isso parte 1 no título, para que acima de tudo eu tenha a convicção de que preciso expor meu olhar constantemente.
PS - As fotos foram feitas durante a preparação do Sarau debaixo, evento que acontece toda terceira terça do mês em baixo do viaduto do DIA na capital sergipana, Aracaju.
Artigo apresentado em 2014 para a matéria "Tecnologia e linguagem dos meios de comunicação" do curso de Audiovisual da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
O mercado fonográfico encontra-se em uma grande enrascada. Com a acensão da internet e o seu modelo de compartilhamento incessante, os grandes selos e gravadoras viram as
suas economias em crise. De um modo geral, o surgimento dos torrents
e sites de hospedagem aumentaram a circulação de conteúdo artístico, mas em compensação freou violentamente a economia
fonográfica. Por outro lado, o cinema, com forte poder de
reinventar-se, devido ao seu modelo de consumo, não enfrentou tantos
problemas. Entretanto, com o crescente aumento dos mais diversos
tipos de tela, essa situação começa a incomodar.
O Presente artigo tenta relacionar os debates
apresentados na obra “A Tela global” de Gilles Lipovetsky com a
postura inovadora de Amanda Palmer dentro do mercado fonográfico.
Apesar de os dois assuntos tratarem de nichos diferentes, cinema e
música, pretendemos problematizar a relação entre consumidor e
produtor de arte à partir das inovações tecnológicas, não só
pelas vias econômicas, mas também pelas relações sociais.
Introdução
– Um novo modelo de consumo
A tecnologia dos anos
1980 cola-se à pele, responde ao toque: o computador pessoal, o
walkman, o telefone portátil, as lentes de contato. Alguns temas
centrais emergem repetidamente no ciberpunk. O
tema ainda mais poderoso
da invasão da mente:
interfaces
cérebro-computador, inteligência artificial, neuroquímica
– técnicas que radicalmente redefinem a natureza da humanidade, a
natureza do eu... (SANTAELLA,
2007, p. 128, apud DYENS,
2001, p. 73)
A
citação acima refere-se aos anos 80, mas ela cabe perfeitamente ao
que viria acontecer nos anos posteriores. Vivemos o pós-humanismo,
ou seja, vivemos cada dia mais numa difusão entre homem e máquina.
Mas diferente das previsões oitentistas em filmes como Blade Runner,
a tecnologia não está desmembrada do ser humano. Não existem ao
nosso redor robôs andantes e falantes que nos servem, na verdade, a
nossa relação parece ser mais carnal, conectada. A tecnologia hoje
interfere nas relações humanas
como suporte. As telas espalhadas pelo mundo com seus aplicativos e a
internet oferecem um modelo de troca de informações e comunicação
bem mais simplificados.
Nossas
relações sociais, profissionais e financeiras quase nos obriga a
entrar nessa lógica de intermediação tecnológica. Essa interferência, se bem utilizada, facilita a vida do ser humano, além
de lhe trazer mais conhecimento e entretenimento. Nesse espaço novas alternativas de consumo audiovisual se ampliaram, vemos TV e ouvimos
rádio de maneira diferente, nos comunicamos com mais facilidade em
meio as redes sociais e até coisas banais, como chamar um táxi e
identificar uma música legal se tornaram simplificadas. Todo esse
movimento pode ser caracterizado como cibercultura. Entende-se esse
termo como “a relações
entre as tecnologias informacionais de comunicação e informação e
a cultura, emergentes
a partir da convergência informática/telecomunicações na década
de 1970” (Lemos, 2002).
Ainda
segundo André Lemos, a cibercultura tem como principal orientador a
“re-mixagem”, que seria mais ou menos o costume de
reaproveitamento e edição de conteúdo e informações dentro das
tecnologias digitais. Esse principio tem como características básicas:
“a liberação do pólo da emissão, o princípio de conexão em rede e a reconfiguração de formatos midiáticos e práticas
sociais”, ou seja, o antigo consumidor torna-se também produtor,
cria e adapta o que já existe; se expandem as conexões entre os
usuários com acensão dos dispositivos móveis e a expansão do
acesso a internet e, por último, a restruturação da industria que
destrói o monopólio burgues.
A
cibercultura reconfigurou não só a industria cultural, como também
revolucionou as relações pessoais e a experiencia humana. Alterou
as formas de produção e circulação material, de conteúdo e de
serviços, assim também como modificou a troca de informações e a
comunicação. Dentre dessa revolução, as mídias hegemônicas e a industria cultural, viram o seu monopólio ruir. As novas mídias
apresentam um formato igualitário e democrático e fazem com que a
industria acabe ganhando novas molduras. Dentro desse novo momento
surgem novos conflitos, não só para a industria como também para
artistas e produtores.
As
soluções de Amanda Palmer
Amanda
Palmer não foi a criadora de um sistema que se adaptou as novas
tecnologias. As plataformas que ela usou para arrecadar dinheiro dos
fãs para uma produção independente, já existiam. Na verdade, a
cantora é um exemplo de uma restruturação da industria da arte a
partir do próprio artista. Nesse novo modelo as grandes industrias
perdem o controle para os produtores, o que resulta uma maior
liberdade para o mesmo.
No
caso de Amanda Palmer, cantora da banda The Dresden Dolls, a
plataforma usada por ela foi um site de crowdfunding, financiamento coletivo. Esses espaços funcionam de forma inversa ao modelo
consolidado anteriormente. Os consumidores, fãs e amigos, pagam
antecipadamente pelo produto a quantia que achar necessária, para só
depois, afinal a realização ainda vai acontecer, receber o produto.
Na arrecadação que Palmer fez junto aos fãs, sua pretensão era
de 100 mil, mas acabou conseguindo mais de US$ 1 milhão, ou seja,
transformou-se em um ícone desse modelo de negócio.
Para
a cantora esse novo modelo de gestão de negócio é libertário: “Eu
quero fazer música e quero ter o controle. Geralmente, perde-se o
controle quando se assina com grandes gravadoras, e acaba não
valendo a pena, mesmo que a grana seja maior. Eu tenho uma boa ideia
de quem são os meus fãs, o tipo de música que eu quero fazer, como
eu quero que o conjunto fique” (PALMER, 2013).
Uma
revolução na industria da arte
O
'verdadeiro' cinema não se acha atrás de nós: ele não cessa de se
reinventar. Mesmo confrontando a novos desafios de produção, de
difusão e de consumo, o cinema continua sendo uma arte de um
poderoso dinamismo, cuja criatividade não está de modo algum em
declínio. O tudo-tela não é o túmulo do cinema: mais do que nunca
este demonstra inventividade, diversidade, vitalidade (LIPOVETSKY;
SERROY, 2009, p 14).
Assim
como a industria fonográfica, o cinema também enfrenta um dilema.
Com a expansão das telas, principal suporte para as tecnologias
atuais, o audiovisual estará em todos os lugares, mas em
descompensação pode por em risco o formato atual da industria
cinematográfica. Mas, diferente da música, o cinema consegue se adaptar e resistir, entretanto os meios de transmissão de conteúdo
audiovisual não param de surgir e por isso esse cenário deve se
transformar.
A
primeira grande concorrência tecnológica que gerou medo na industria
cinematográfica foi o surgimento da televisão. Muitos acreditavam
que as pessoas deixariam de assistir filmes em salas de cinema, para
assistir no conforto das suas salas. Acabou que a televisão
construiu uma linguagem, metodologia e sistema financeiro próprio,
diferenciando da sétima arte. Hoje em dia, o próprio modelo
clássico de ver TV está mais ameaçado que as exibições de filmes
em salas de cinema. Houve uma reconfiguração, as salas acabaram se
transportadas para dentro dos shoppings e os investimentos de filmes
dedicados a várias “janelas”, ganharam um maior financiamento.
A
questão agora é que o problema (ou solução) é bem mais complexo.
Vivemos à época da tela global:
Tela
em todo lugar e a todo momento, nas lojas e nos aeroportos, nos
restaurantes e bares, no metrô, nos carros e nos aviões; tela de
todas as dimensões, tela plana, tela cheia e minitela portátil;
tela sobre nós, tela que carregamos conosco; tela para ver e fazer
tudo. Tela de vídeo, tela em miniatura, tela gráfica, tela nômade,
tela tátil, o século que começa é o da tela onipresente e
multifome, planetária e multimidiática (LIPOVETSKY; SERROY, 2009, p
14).
Todas
essas definições de telas aglomeram dentro delas plataformas que, a
cada vez mais, fazem ligações de uma mídia com outra, num processo
chamado transmídia. Tv e rádio hoje já são transmitidas online, o
serviço do Netflix, por exemplo, oferece um modo revolucionário de
ver televisão: o que quiser, quando quiser em qualquer lugar. A
televisão perde cada vez mais audiência, mas algumas séries batem
recordes de downloads, os investimentos para as produções
televisivas se equilibram com os grandes filmes hollywoodianas, o que
parece acontecer é que as produções seguem o mesmo caminho feito
pelas mídias, tudo conectando-se.
Produções
baratas lotam sessões, produções caras enchem programações de
canais de assinatura, filmes estreiam direto na TV, exibições simultâneas de episódios de séries em todos os países que o canal
tem retransmissoras, rádio em aparelhos televisivos, Tv em
dispositivos móveis. Os limites entre TV, rádio, cinema e internet
parecem cada vez mais desaparecer e é dentro dessa lógica que o
capitalismo parece desestruturar-se. Mas o que é mais interessante é
que o monopólio da produção cultural foi quebrado, as tentativas de resistência fora desse novo modelo social ao qual se organiza as
relações sociais, frustraram.
Dentro
desses dois panoramas, com o audiovisual expandindo suas plataformas de exibição e ao mesmo tempo transformando essas mesma plataformas
em uma única coisa, onde o que diferencia as produções é o caráter técnico, e a música arranja novas formas de financiamento,
bandas recorrem a financiamentos coletivos, disponibilizam grátis o
disco na internet ao mesmo tempo que aumenta o preço e o número de
shows . O que fica claro é que o mercado se reconfigurou, a crise
existe para quem não se adequou as novas tecnologias.
Conclusão
Como
fica claro na introdução deste artigo, a internet revolucionou as
relações sociais e constantemente transforma a industria cultural.
Ela tem um caráter bastante democrático e anárquico. As informações
cada vez mais sai das mãos dos detentores de capital, isso é um
grande avanço para humanidade. Mas o futuro apresenta grandes
conflitos. Dentro do sistema em que vivemos, a arte precisa
sustentar-se, os produtores precisam de dinheiro para produzir mais.
Entretanto, ao mesmo tempo, esse democratização da “arte em todo
lugar” não pode morrer, nem deve, pela dimensão que a internet
tem.
Na
verdade, as tecnologias a partir das interferências sociais,
modificaram toda a estrutura de sociedade. O capitalismo, como
conhecemos, até então, está morrendo. A democracia no consumo da
arte vem de um viés de esquerda e ameaça o “livre mercado”, mas
fomenta a liberdade individual. O grande risco, que é comum dentro
desse sistema, é que ele queira apoderar-se dessas liberdades. Uma
visão otimista da manutenção desse mercado é o exemplo de Amanda
Palmer, mas existem ações da antiga mídia hegemônica e agora destruída tentando retornar a sua dominação. Mas o interessante é
que além das alternativas criadas pela tecnologia, ela própria em
seu sistema dificulta essas atitudes.