quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Precisamos falar sobre Kevin (2011)

Não sou psicólogo para dizer exatamente o que é um psicopata. Já li alguns texto e futuramente pretendo ler um livro que fala sobre o assunto. Mas, tentando ser o mais simplista possível, tentarei explicar o que é isso. Antigamente, no meu esteriótipo mundinho infantil, eu pensava que os psicopatas eram pessoas loucas que saiam matando todo mundo. Não é bem assim. A psicopatia é um especie de diferença mental na qual o individuo é caracterizado pela ausência de sentimentos e pelo grave desvio de caráter, devido a falta de remorso e culpa, a frieza e a insensibilidade aos sentimentos alheios.

Em “Precisamos falar sobre Kevin”, baseado no livro homônimo, na qual a capa é a foto de um garoto com cabeça de bicho (clique aqui para ver a imagem), o que já adianta um pouco sobre a história, vemos o processo de crescimento de Kevin, um garoto com fortes traços de psicopatia. Toda a história é contada pelo ponto de vista de Eva, mãe do garoto, que percebe desde muito cedo o comportamento diferente do filho.

Desde muito pequeno, nós percebemos aspectos desse problema na personalidade do garoto, ele é extremamente inteligente, irritante, cruel, manipulador, sem remorso e mentiroso. Quando muito pequeno costumava se recursar a brincar com a mãe e demora muito tempo para começar a falar. Já um pouco maior, por volta dos 8 anos, ainda usava fralda e costumava fazer bagunça com a comida, tudo isso apenas para irritar a sua mãe. Como no caso em que, depois de um longo dia de trabalho dela, decorando o seu quarto, o garoto, em questão de segundos, destrói todo o trabalho feito. Já jovem mata o bicho de estimação da irmã e depois de ser pego pela mãe se masturbando continua a fazer encarando-a. Isso é tudo muito perturbador. Parece que há um certo tipo de obsessão do garoto pela mãe, ele tenta, ao máximo, fazê-la infeliz. Ao contrario do pai, na qual o seu comportamento era totalmente diferente, levando a um certo tipo de manipulação dele para que o pai não perceba a sua crueldade e por isso ponha ele contra a mãe.

Em determinada cena mostra-se o pai e o filho jogando vídeo game. Mesmo não se aprofundando no assunto, o filme abre uma discussão. Muitas pessoas acreditam que filmes e jogos violentos influenciam na personalidade das crianças e a torna-as cruéis. Eu discordo totalmente. A minha geração, por exemplo, foi criada consumindo produtos considerados violentos e eu não conheço nenhum amigo meu que foi influenciado por isso. É porque, normalmente, a mídia tenta justificar acidentes como o da estreia de Batman nos EUA, culpando os grandes produtos da cultura pop. Esse tipo de coisa não faz sentido, até porque o atirador do cinema com certeza tem algum tipo de problema, podendo ser até um psicopata. Na verdade, pelo contrário, esses tipos de produtos são positivos, pois ajudam as pessoas a diferenciar a realidade da ficção e do que é certo e o que é errado.

Devemos elogiar totalmente o trabalho da direção do filme, é simplesmente espetacular. Como o uso do vermelho em cena, por exemplo. Pra começar o filme começa com muito vermelho, na qual a personagem Eva esta no meio de um evento conhecido como Tomatina, uma guerra de tomates que acontece na Espanha. Esta cor está sempre relacionada com o sofrimento da personagem e as suas sequelas pós-tragédia. Uma dica disso é no começo do filme, na pressa em pegar o elevador. o botão é vermelho. Ou seja, o vermelho é algo que a prende ao passado na qual ela tenta se limpar, tanto do corpo, depois da Tomatina, tanto da casa que aparece certo dia suja dessa cor na entrada.

Outra parte espetacular do filme é a cena em que Kevin sai do ginásio após a tragédia. Neste momento entra um áudio de pessoas aplaudindo e gritando por ele, como se fosse um show na qual ele é o espetáculo. Áudio esse que não tem nada haver com a reação das pessoas fora do ginásio. Isso resume o sentimento do personagem de chamar atenção e fazer a mãe sofrer novamente, mas também pode soar como uma crítica a sociedade. Como no termo A Sociedade do Espetáculo, na qual uma grande maioria das pessoas constroem uma imagem de vida feliz e de politicamente correta para se mostrar para as outras pessoas, numa tentativa de ser aceito.

Outra coisa bastante interessante é essa incessante procura por culpado que a sociedade busca, na tentativa de justificar algo que é obvio. Nesse caso é óbvio que o garoto tinha problemas e que o desastre é culpa dos problemas do garoto. Mas o que acontece é que a comunidade culpa a Eva a todo momento. Ou foi isso que pareceu, afinal a agressividade das pessoas da comunidade pode ser uma paranoia da personagem que se culpa como ninguém. Afinal o vermelho está ali a todo momento, mostrando a culpa, o sofrimento e a tristeza de Eva. Então fica a dúvida.

Mas, eu me pergunto, o que fazer se a gente descobrir que um amigo ou parente nosso é um psicopata? Afinal, segundo estimativas, uma a cada trinta pessoas são psicopatas. Lembrando que psicopatas não são, necessariamente, assassinos. "Eles geralmente são médicos, lideres religiosos - daqueles que roubam o dinheiro dos fiéis sabe, políticos, advogados, o amigo que pega dinheiro emprestado e não devolve, aquele que bota a culpa em outros, especialistas em fazer você acreditar na mentira deles, esse tipo de pessoa vive praticamente duas vidas ou mais ao mesmo tempo e não conseguem dar um deslize para que outros saibam que aquilo o que ele diz é mentira. A psicopática geralmente vem agregada ao mentiroso compulsivo." (Fonte) O que fazer? É bem complicado, mas se a gente desconfiar dessas coisas deve-se fazer um encaminhamento a um psicólogo pra tentar descobrir se realmente trata-se disso, pra depois ter um acompanhamento psicológico desse individuo, ou sei lá, tomar alguma providência.



Pra terminar esse imenso post, gostaria de elogiar também os atores. Todos, desde a atriz que fez Eva (Tilda Swinton) até o Kevin em suas diferentes fazes. O filme é um trabalho primoroso de acertos em todos os aspectos e já se tornou um dos meus longas preferidos. Futuramente pretendo ler o livro também, aí quem sabe uma resenha role por aqui.